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quinta-feira, 4 de junho de 2009

ALGUMAS COINCIDENCIAS, DIGAMOS ASSIM


CRÔNICA 54


Em uma roda de amigos, um comentou que recebeu uma intimação de 20 mil reais por uma fiança que assinou para que um conhecido pudesse alugar um apartamento. Todos lamentaram o fato e três deles até disseram a mesma coisa: que isto era uma lição para ele não ser mais fiador. Ora, ele indagou se ser fiador era alguma coisa errada que, portanto, ele teria que pagar por um erro cometido. E se havia alguma lição no caso, seria a de não ajudar os outros, o que não seria uma boa lição.
A conversa continuou no bar e não se falou mais no assunto. Com o tempo esqueceram-se de perguntar se o amigo pagara de fato a fiança ou não. Como no jornal, uma notícia substitui a outra e em pouco tempo nos esquecemos do que foi manchete há um mês. É claro que o fiador não se esqueceu. Ao contrário, vivia sob a ameaça de ter que fazer um empréstimo bancário para pagar uma dívida alta que não era sua. Mas, como disseram alguns de seus amigos, ele era culpado por confiar no semelhante e por ter ajudado alguém.
Aqui cabe a pergunta se a fiança é uma coisa errada, por que permanece como instituição para os contratos de aluguel? Por que juízes e advogados, que sabem melhor que se trata de uma prática nociva, não extinguem com tal instituição, criando um seguro obrigatório, por exemplo?
Alguns meses se passaram e encontro com o meu amigo fiador. Estava mais aliviado, pois no último momento um parente do inquilino devedor lhe emprestou dinheiro para o pagamento do débito, mas ele preferira não comentar o assunto com mais ninguém, decepcionado com as opiniões que ouvira das pessoas com quem conversara sobre o caso. Disse que alguns familiares, amigos e colegas de trabalho sempre diziam que ele fora ingênuo e que não deveria ter aceito ser fiador. E que aprendesse daquele dia em diante a não assinar mais nenhuma fiança. Por isso, não comunicou a ninguém o desfecho do caso.
Não sei o que aconteceu na família ou no trabalho, mas na nossa roda de amigos comuns, verifiquei certas “coincidências” nos últimos dois meses. Um amigo teve que ser internado às pressas para um tratamento não coberto pelo plano de saúde; outro teve um problema com o carro e ele ainda não tinha renovado o seguro; e um terceiro teve problemas no seu pequeno comércio. Quando, sem querer, pensei sobre estes casos, constatei que o “prejuízo” deles era parecido com o do meu amigo fiador. Não contei a “coincidência” para nenhum dos quatro, até porque poderia causar constrangimentos. O fato é que esta história recente, ainda que verdadeira, me soa como uma parábola.
Não sei bem o que esta parábola significa, ou qual a sua lição. Quem sabe o leitor a tenha compreendido melhor do que eu?

Katia Sarkis










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