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quarta-feira, 15 de abril de 2009

NÃO SE AUSENTE!


CRÔNICA 48


Tinha uma reunião marcada para às dez horas de ontem com quatro amigos. Para facilitar, seria num café que fica no andar térreo do local onde dois deles trabalham. A reunião era para discutir a proposta de um trabalho em conjunto, fora das atividades normais de cada um dos cinco. A princípio todos aceitaram entusiasmados e acordamos de levar já por escrito algumas idéias e projetos. Seria a primeira reunião informal e receberíamos um organograma feito por Cláudio, que tem a fama de ser o mais organizado de nós.
Às dez e meia, iniciamos a reunião, eu e Paula, já que Cláudio não pôde descer de sua sala; Marta telefonou avisando que só poderia ir às 13 horas; e Diogo simplesmente não apareceu. Depois dos 15 minutos de tolerância, típicos só de nossa cultura, iniciamos a pauta, feita na hora, já que o organograma cuidadoso de Cláudio não conseguiu descer sete andares para se sentar à mesa conosco.
A primeira proposta aceita por unanimidade foi o de não chamarmos mais Diogo para a nossa “sociedade” e imediatamente telefonamos para outro amigo de profissão e deixamos recado em sua secretaria eletrônica para que entrasse em contato o mais cedo possível para discutirmos um trabalho em parceria. Para Cláudio e Marta, oferecemos outra oportunidade. O não comparecimento, sob qualquer motivo, implicaria o desejo de não participar do grupo. Como terceiro tema da pauta, discutimos a possibilidade de fazermos o serviço em dupla, desde que certas adaptações fossem feitas.
Do modo como falo, pode parecer que agimos com rigor, mas não é verdade. Somos amigos há pelo menos 12 anos e já nos conhecemos o bastante para avaliar se a parceria vale a pena ou não. Quando o possível parceiro falta à primeira reunião, ele já respondeu que não vale.
Saí do café lamentando o “desencontro” e pensando principalmente em Diogo, que na véspera me ligara confirmando a sua presença e dizendo da satisfação desta oportunidade de um trabalho em conjunto. A retrospectiva da conduta de Diogo lhe é amplamente desfavorável. Em sua repartição há muito tempo não é mais respeitado e só não é despedido porque é funcionário público. Mas a amizade faz com que nos lembremos dele para festas e até para convidá-lo para serviços avulsos, embora saibamos de sua irresponsabilidade. Só que agora trata-se de um proposta de trabalho séria demais, para corrermos o risco de por tudo a perder por causa de alguém que não cumpre horários nem compromissos.
O curioso é que Diogo é quem mais reclama de falta de dinheiro, de necessidade de free lancer, e, quando surge uma ocasião, ele simplesmente não vai. Certamente ele não sabe que sempre que seu nome é mencionado, há alguém para se lembrar de sua irresponsabilidade, de suas faltas, de seus atrasos, de suas omissões. Vai morrer sem saber por que está cada dia mais só, mais abandonado pelos a- migos. Talvez julgue que o “destino” lhe é adverso, como se não fosse ele quem fizesse tal destino.
Quando a pessoa não comparece à própria vida, o mundo ao redor também se ausenta.

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