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domingo, 14 de junho de 2009

NÃO LEIO, NÃO OUÇO, NÃO VEJO.


CRÔNICA 58

Hoje cedo no mercado dei com uma mudança: as mercadorias passaram a ser pesadas com o caixa e não mais com um funcionário exclusivo para a balança. Havia vários cartazes espalhados pelo mercado avisando da mudança que ocorreu há três dias e, de vez em quando, pelo alto-falante a mudança era repetida.
Obviamente que no ponto das antigas balanças não há mais funcionários, só as balanças que ainda não foram retiradas. Mesmo assim, observei que várias pessoas perguntavam se eles não pesariam mais as verduras e frutas ali, como se não houvesse cartazes avisando e como e o aviso pelo alto-falante fosse falso. Era preciso que o funcionário repetisse pessoalmente que tudo passou a ser pesado na hora do pagamento, nas caixas.
O fato parece banal e talvez não seja tanto assim, embora cotidiano. Seriam todos os clientes do mercado analfabetos e ao mesmo tempo surdos? É claro que não. Ou melhor: é claro que os que perguntaram diretamente a um funcionário são. Não no sentido literal, mas são. Analfabetos, porque ignoram a linguagem escrita, porque não têm o hábito de ler cartazes, quadros de avisos, comunicados etc; só levam em consideração o que ouvem. E surdos, sim, no sentido de que não ouvem tudo, só que já sabem ou o que lhes interessa ouvir.
Há alunos que têm a mania de perguntar aos professores sobre o enunciados das questões na hora da prova: querem saber, por exemplo, se quando o a questão pede para dar as causas da revolução francesa era para dar as causas da revolução francesa. Para quem nunca teve esta experiência na escola pode parecer piada, mas isto acontece com mais frequência do que supomos. Sem dúvida, o aluno está inseguro e mal acostumado. Precisa ouvir do professor as mesmas palavras do enunciado.
Creio, porém, que isto não ocorra só com alunos adolescentes e clientes de mercados. Os casos acima, além de verdadeiros, devem ser lidos como parábolas. Muitas vemos não enxergamos/lemos o que está escrito, nem ouvimos o que dito, mesmo com a potência de um alto-falante. E por quê?
Estamos tão ensimesmados que não percebemos o outro? Só lemos ou ouvimos o que já sabemos? Ou com medo de cometermos um erro de interpretação, esperamos que alguém nos diga o que já escrito e/ou dito, pois assim não somos responsáveis?
Acho que podemos enumerar várias suposições como motivos reais para a cegueira e surdez e talvez um só não responda. Talvez haja de fato a combinação de várias hipóteses. De qualquer forma, fica a parábola do analfabeto e surdo para reflexão. Você tem ouvido o que filho, colega, namorado, vizinho, conhecido ou estranho lhe diz no dia a dia? E por que não?

Katia Sarkis

avia váHav

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