contador de visitas

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O GASTADOR

CRÔNICA 57

O modo como lidamos com o dinheiro revela muito do que somos. Dos vários tipos há dois que, por serem opostos, são facilmente identificados: o poupador e o gastador. Ambos, se exagerados, são prejudiciais. Mas do ponto de vista estritamente financeiro o gastador dá muito mais dor de cabeça.
Ele adora cartões de crédito, no plural mesmo, cheque especial, prestações a perder de vista, empréstimo de todo tipo (de financeira à família), e, em último caso, agiota. O céu é o limite, não da conta corrente, mas da disponibilidade psicológica para o endividamento.
Geralmente ele pede dinheiro emprestado para pagar outro empréstimo e assim vai ad eternum. Provavelmente ele não percebe (nem admite) que é um peso desagradável para toda a família e, em particular, para o parceiro que, de uma forma ou de outra, vai ter que arcar com as despesas impensadas dele.
Aqui nos interessa pensar outra coisa: o gastador é normalmente uma pessoa insatisfeita que, como um criança, quer preencher o álbum de figurinhas para, em seguida, comprar outro e começar tudo de novo. Há um buraco enorme dentro dele que precisa ser preenchido e, por isso, ele compra coisas e mais coisas, sem precisar da maioria, e sem poder pagar também a maioria.
Se. além de gastador, ele for também um glutão, o tipo está perfeitamente caracterizado. Ele quer devorar o mundo pela bolso e pela boca, porque tem medo do vazio. E teme o vazio interno, mais do que o prato vazio. Ao adquirir coisas, ele se sente momentaneamente satisfeito, mas como coisas de fato não preenchem o vazio interno, é só uma compensação, que passa em pouco tempo. Então ele precisa fazer mais compras, como um viciado que não consegue mais viver, senão sob o efeito da droga.
Ao contrário do que a palavra poderia sugerir, o gastador não é aquele que “gasta” a vida, o que seria benéfico, mas o que, iludidamente, tenta aprisiona-la em bens materiais. E ele, como o menininho do álbum, se senta frustrado diante das páginas completas com a sensação de que a posse daquele objeto é totalmente inútil. Por isso aprender a lidar com o dinheiro não é uma questão só de finanças domésticas ou de planejamento, mas de nossa relação com o mundo.


Katia Sarkis

Nenhum comentário:

Postar um comentário