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terça-feira, 2 de junho de 2009

O QUE É PROBLEMA?

CRÔNICA 53


Costumo dizer que uma coisa é cara ou não, em função da percentagem que ela representa de seus rendimentos. Logo 100 reais para quem recebe salário mínimo é uma quantia elevada, mas para quem recebe 100 salários mínimos, é insignificante.
Bem, não é de questões financeiras que trata este texto. O parágrafo inicial é só um exemplo para reflexão. Quero pensar sobre o que é problema. Esta semana recebi várias notícias de pessoas próximas que são problemas. Um perdeu um jovem filho afogado; outro descobriu que tem um tumor no cérebro e tem que operar com urgência; outro soube que mulher o está traindo há alguns meses; e outro recebeu uma cobrança indevida de 20 mil reais. Como dizem, a bruxa parece solta.
Seja lá como for, todos se vêem diante de perdas, e algumas irreparáveis. Qual é a pior? Talvez algum preferisse trocar de lugar com outro, pois a dor também é subjetiva e não há uma escala consensual de sofrimento. Diante destes fatos, cabe agora pensar na reação, como se reação fosse algo que pudesse ser racionalmente escolhido. Sabemos que não é.
De imediato, diríamos que perder dinheiro é mais fácil do que perder um filho, ou perder a mulher de sua vida, ou fazer um operação de risco. Já em relação aos outros fatos não saberíamos escolher, pois as vidas e seus valores são bem diferentes.
Há como superar certos problemas ou eles são insuperáveis? E o que é o dia seguinte a uma perda insuperável? Os meses seguintes? Os anos seguintes? A vida seguinte? A vida sempre é outra. Não há como não acusar o golpe da dor ou da perda. Não há como não mudarmos, como sermos os mesmos.
E neste momento que surge o verbo refazer, ou refazer-se. Mas não é fazer a mesma coisa de novo, como se fosse um exercício de matemática cuja resposta encontrada não era a certa. Refazer-ser é fazer-se outro, embora o mundo do lado de fora seja o mesmo. A surpresa dos golpes mencionados acima nos desarma e nos faz mais frágeis para enfrentá-los.
Para os outros, somos os mesmos. De um modo geral, nos consolam, mas não percebem que formos obrigados a mudar. E esta mudança (ou reação) é algo que nos foge, que foge ao controle da razão. Pode ser que a vida tenha plasticidade e se acomode a novas formas, mas a aparência de uma nova forma nem sempre é muito agradável.

Katia Sarkis








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