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terça-feira, 16 de junho de 2009

TUDO TEM UM PREÇO


CRÔNICA 59


A indústria capitalista atrai seus clientes com palavras como bônus, brinde, gratuito, porque eles, acostumados a pagar por tudo (poderia ser de outra forma?) sentem-se seduzidos por algo que é falsamente de graça. Tais pessoas querem no fundo ter a sensação de que estão ganhando algo, de que estão levando vantagem. E é óbvio que não é isto o que acontece.
Se o artista não voltar para o bis, é mal visto, é tido como antipático, porque não ofereceu uma, duas ou três músicas de “graça” para a platéia. Este sentimento guloso de usufruir ou conseguir algo sem pagar revela o outro lado da questão: ter que pagar por tudo que obtemos.
A frase é velha. Tudo tem um preço, ou, pior, todos têm um preço. Este preço não é necessariamente em moeda sonante ou pago por cartão de crédito ou título do tesouro nacional; mas há um custo e, portanto, há a expectativa de uma pagamento.
O adulto infantil ou irresponsável é aquele que foge de pagar as coisas ou espera que alguém o faça por ele. Repito: aqui não me refiro a pagamento apenas em dinheiro. É claro que, no caso de uma dívida financeira, fica bem fácil perceber a irresponsabilidade ou a imaturidade de quem a contrai. Mas vejamos outros exemplos: aquele que trabalha de dia e estuda à noite e, ainda por cima, mora longe dos locais de trabalho e de estudo, sabe o preço que paga pela aquisição de conhecimento e pelo diploma. Ele, sem dúvida, dará mais valor ao estudo e à profissão, pois sabe o esforço que fez para conquistá-los.
Em qualquer relação, seja familiar, amorosa ou profissional, há sempre um preço a ser pago, para se ter tal namorado ou permanecer naquele emprego. Não quero dizer com isto que as pessoas sejam (ou tenham que ser) venais. Muito pelo contrário. Aqui pagar um preço não é se vender, não é se sujeitar ou abrir mão de suas idéias e princípios. Pagar um preço é empenhar-se por uma conquista e não esperar que ele caia do céu em suas mãos.
Quem não está disposto a pagar o preço das coisas não quer assumir a sua vida, não quer assinar o seu destino. Esta omissão em relação à própria vida talvez seja o preço mais elevado que pagamos para, em troca, olharmos de braços cruzados o tempo passar, sem sermos obrigados a um único gesto.

Katia Sarkis

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