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sexta-feira, 19 de junho de 2009

OS OUTROS, SEMPRE OS OUTROS




CRÔNICA 60


No ambiente familiar ou profissional é comum nas conversas a referência a um terceiro. Há aquele primo de novo desempregado ou o amigo, coitado, que não vive bem com a mulher. Isto significa que quem faz este comentário tem emprego e tem, ou pelo menos aparenta, um relacionamento conjugal bom. Ou ainda, quer disfarçar alguma dificuldade profissional ou amorosa e, por isso, fala dos problemas dos outros. Pois se ele menciona o desajuste entre um casal, é sinal de que tudo vai às mil maravilhas no plano afetivo. Ninguém vai desconfiar, por exemplo, que quem critica o vizinho que não para em um emprego esteja desempregado também. Esta é a lógica.
Reparem como nas conversas existe a tendência a se falar de alguém, para censurar, criticar, discordar. Os outros vivem nos dando problemas: duas mães falam dos filhos adolescentes e de que como é difícil esta fase; duas filhas falam das mães idosas e de que como é difícil esta fase; dois amigos falam das ex-mulheres, depois da separação, e de que como é difícil esta fase...
Sei que não lá muito educado, mas observe as conversas nas ruas: há sempre um alguém como objeto da conversa e ele está sempre em um plano inferior, com algum tipo de problema. Mas se escutasse os conselhos dos pais, as opiniões dos amigos, as orientações do chefe...seria outra pessoa. Muito melhor, é claro.
Estatisticamente, quando falamos de outra pessoa, 90% das vezes é para apontar-lhes defeitos e só 10% para fazer elogios. Isto se não lembrarmos que muitas vezes os elogios vêm acompanhados de restrições: “se deu bem na vida, mas também com o dinheiro e os prestígio do pai, ficou fácil...”; “está fazendo um sucesso incrível, mas também com a beleza que Deus lhe deu tudo vem às suas mãos...”
A vida só é difícil para nós. Nós é que somos os únicos heróis por nossas pequenas conquistas. Os outros, não; são sempre coadjuvantes ou figurantes de nossas vidas e sem nunca terem uma indicação ao Oscar.

Katia Sarkis

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