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quarta-feira, 25 de março de 2009

AMOR???

CRÔNICA 40

Esta história aconteceu de fato há quarenta anos. O casal recém-casado foi passar alguns dias num hotel na serra. Quando estava na piscina, a mulher percebeu que havia esquecido a touca no quarto e pediu ao marido que a fosse buscar. Ele não quis ir e sugeriu que ela nadasse assim mesmo sem touca. Naquele momento ela se decepcionou, sentiu que seu casamento tinha sido um engano e que ele não a amava como ela supunha.
Soube da história muito tempo depois pela voz da mulher que, então madura, ria da tolice da jovem de vinte e dois anos. Só que era tarde, ele acreditou que o fato de não ir buscar uma touca era sinal de falta de amor. E dali em diante, ou seja, desde a primeira semana de vida conjugal, desconfiou de sua união. Não precisa ser muito esperto apara concluir que eles se separaram. Com dois filhos e dez anos de vida a dois.
A maturidade, ainda que louvável, não modifica a ingenuidade da juventude e seus equívocos. Qualquer um acharia razoável o fato de ele não querer ir buscar a touca e que isto não significa falta de amor, mas a jovem recém-casada, provavelmente educada em fantasias bizarras, pensou diferente e se desiludiu.
E se fosse o contrário. Se fosse ela quem se negasse a buscar o pé de pato dele, também seria sinal de desamor? Pelo jeito, ela não se fez esta pergunta na ocasião, se não teria visto facilmente como estava sendo infantil.
Não sei qual é a sua idade, pode ser vinte e dois ou cinquenta, ou outra qualquer. Até porque nem todo jovem é ingênuo, nem toda pessoa madura, esclarecida. Só convido a que pense sobre o que você chama de amor. O simples ato de ir buscar um objeto ou a sua recusa significa amor ou desamor? Espero que não.
Primeiro, ser prestativo não quer dizer necessariamente ser amoroso. Pode ser apenas uma característica, agradável para os outros, reconheço. Segundo, seria até muito fácil se amar alguém fosse só fazer favores, pois favores fazemos para colegas ou vizinhos e não temos este tipo de sentimento por eles.
Cuidado, pois, com o uso de substantivos abstratos, como amor. Eles servem para encobrir muita coisa diferente e distante. E em alguns casos até o contrário do que significam.

Katia Sarkis




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