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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CRÔNICA 10


NÃO, A VIDA NÃO FICA PARA A PRÓXIMA VEZ


Quem um dia não ficou satisfeito por estar chovendo e, portanto, ter uma boa desculpa para não sair? Só que esta saída significava algum prazer. como ir a um passeio, à praia ou ao cinema. Ora, por que ficaríamos satisfeitos em não fazer algo que, a princípio, seria a realização de um desejo?
É estranho, mas é a verdade. Quem não respondeu sim à pergunta inicial, parabéns. Mas acho que não teria nenhuma resposta afirmativa. A questão que interessa é por que precisamos da chuva como desculpa para não agir? E mais ainda: por que “queremos” não agir, se a vida se dá justamente nas ações, mesmo que pequenas e simples?
Primeiro passo dado: por que queremos nos poupar da vida, atrás de uma vidraça olhando a chuva que cai e falsamente lamentando que não poderemos ir à praia, onde nadaríamos, pegaríamos sol, conversaríamos com os amigos, apreciaríamos a paisagem etc?
Resposta número um, mas não única: temos a tendência à autossabotagem e esta ocorre em diversos níveis. Ficar em casa em dia de chuva é só um deles, e não é o mais grave, claro.
Resposta número dois: a lei da inércia. A vida em recintos fechados nas grandes cidades acostumou o corpo a espaços pequenos e, como já foi dito, fechados, com poucos movimentos. A insegurança das ruas enxota cada vez mais o cidadão das ruas para as quatro paredes. Repare que desacostumado de se mover, o corpo tem dificuldade de movimento, preferindo, normalmente, não fazer esforço físico.
A mente, por sua vez, também é permanentemente adestrada pela “civilização” para se acomodar, visto que a acomodação traz mais longevidade. Agora me diz para que viver mais tempo, se não for para viver mais coisas, com mais intensidade?
Quantas vezes ouvimos que hoje não, mas da próxima vez traremos o calção para ir à praia, ou teremos tempo para o bate-papo e a janta, ou teremos ensaiado a canção para apresentar, ou estaremos melhor preparados para fazer a prova. Mas hoje evidentemente não podemos.
Não, na próxima vez não é mais esta vida. E talvez não seja outra.

Katia Sarkis

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