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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

CRÔNICA 6
NÃO À NEUTRALIDADE

Há os que sofrem da “síndrome da Suíça”, isto é, são como os chamados países neutros. Não vou aqui analisar as razões desta neutralidade. Mas, a princípio, desconfio das neutralidades e as temo. Para mim são sempre suspeitas e pouco respeitáveis. Curiosamente, às vezes dá-se uma inversão e o indivíduo diz com orgulho que é neutro, que não se põe de um lado nem do outro. Como se ele não fizesse parte do mundo, ou a ele fosse superior.
No dia a dia, com frequência somos obrigados a dar uma opinião, a escolher um lado e a arcar com as consequências. Sim, é mais fácil “ficar em cima do muro”, ser vago e reticente, de forma a não se comprometer. Talvez até nos achem educados, sensatos ou mesmo maduros, quando, na verdade, estamos sendo covardes e alienados. Desde a reunião de condomínio do prédio até a eleição para presidente da república, devemos externar nosso ponto de vista e defendê-lo, sem receio de desagradar ou de ficar mal visto. Porque uma coisa, é certa, sempre desagradaremos e ficaremos mal vistos, em algum momento. A mim, por exemplo, os neutros desagradam e muito.
Nem falo aqui daqueles que só se pronunciam depois que a maioria já deu seu parecer ou seu voto. O Maria vai com as outras é um caso grave e merece comentários à parte. Falo, por ora, do que, em nome de uma suposta paz, manifesta seu apoio a gregos e troianos, com o intuito de aparentar modos civilizados, como quem se encontra acima do bem e do mal.
Só que não há território neutro, o mundo é um campo minado nos sentidos literal e metafórico. Não há bandeira branca que nos garanta a invunerabilidade diante das balas dos dois lados. E se reparamos bem a expressão “fogo amigo”, tão usada em guerras recentes, também ocorre dentro de nossa família ou de nosso local de trabalho.
Não temos imunidade, como se diz na política; ou não estamos a salvo, como se diz na filosofia. O fato é que nas pequenas coisas cotidianas também não podemos optar pela abstenção, pois ela não existe. Ou “sujamos as mãos” ou “sujamos as mãos”. A menos que você queira fazer papel de Pilatos. Mas de que vale ter as mãos limpas, enquanto o sangue de Cristo corre diante de seus olhos?
O mundo é feito pelos homens que tomam partido.


Katia Sarkis

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